Parte 5 - O Sentido Espiritual da Palavra
Capítulo 83
Conceitos cristãos são revistos
83. Vários doutrinais da Igreja Cristã que são revistos pelo Sentido Interno da Palavra
83.1- Como conseqüência da doutrina da Trindade de pessoas formulada no Concílio de Nicéia, apareceram vários conceitos falsos sobre a redenção, a reconciliação com Deus e a salvação.
83.1.2- A idéia geralmente espalhada pelo cristianismo é que, pelo pecado de Adão, Deus amaldiçoou a raça humana. Todos os homens, pois, tornaram-se "filhos da ira" e ninguém seria salvo. O Filho de Deus, penalizado com a sorte da humanidade, desceu ao mundo, com o consentimento do Pai, e cumpriu a lei do resgate. Por seus sofrimentos na cruz, tomou sobre si o castigo que cabia à raça humana por causa do pecado original, satisfazendo, assim, a justiça do Pai. Este, vendo o sofrimento de Cristo na cruz, moveu-se de piedade e concordou com a salvação de todos os que cressem Filho, especialmente daqueles que cressem que o Filho os havia salvo pelo sangue derramado na cruz. Essa doutrina deu origem a declamações como a que se segue: _ "Deus, fora de Cristo, é um Deus de fogo e de ira". O resultado de tal doutrina é que aqueles que aceitam têm amor ao Filho e temor ao Pai. Ao leitor que acredita nessa doutrina pedimos que examine seu coração, a fim de verificar se tem realmente amor a Deus. É provável que encontre em seu coração não amor, porém temor. Pode o leitor amar a um Deus que o condenou a um tormento eterno, antes mesmo de seu nascimento? Não é de presumir-se que o sentimento de gratidão se volte para o Filho, sem o qual nenhuma esperança de salvação haveria? Mas se Deus é amor, se JEHOVAH sempre amou e protegeu suas criaturas, como podia Ele decretar sentença tão terrível
83.1.3- Consideremos, agora, a idéia da justiça tal como é encarada por essa doutrina. Imaginemos que um homem tivesse dois filhos e que um deles errasse. Se o inocente procurasse o pai e lhe dissesse "Pai, castigue-me em lugar de meu irmão" e o pai atendesse a tal pedido, perdoando o culpado e castigando o inocente, poderíamos chamar a isso justiça? É evidente que não. Deus, que é a misericórdia mesma, não lançaria mão de um meio injusto para fazer justiça, antes perdoaria a seus filhos culpados.
83.1.4- Deus valer-se-ia de Sua Misericórdia inextinguível, a que a Bíblia faz referência em inúmeras passagens, entre as quais citaremos as que se seguem.
"Pois a tua misericórdia é grande até os céus" (Salmo v, 10).
"A ti também, Senhor, pertence a misericórdia" (Salmo 62:12).
"Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade, ó Senhor, é para sempre". (Salmo 138:8).
"Piedoso e benigno é o Senhor, sofredor e de grande misericórdia. O Senhor é bom para todos e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras".(Salmo 145: 8-9).
83.1.5- Não podemos imaginar que um Deus de amor se transforme em um Deus irado. Tudo nos vem de JEHOVAH, como lemos no Novo Testamento:
"Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, desce do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação." (Epístola de São Tiago I, 17).
83.2.- A VERDADE SOBRE A REDENÇÃO
83.2.1- A verdadeira idéia sobre a redenção é que Deus tomou sobre Si o Humano e veio ao mundo por amor de seus filhos extraviados. Veio para salvá-los e conduzi-los a Seu redil. Alguém poderá dizer que Deus, sendo onipotente, poderia ter feito essa obre sem tomar um corpo humano. Devemos responder que Ele sempre age dentro da ordem estabelecida e que Seus atos obedecem a Suas próprias leis. Não era possível que Deus descesse do céu e se apresentasse aos homens em Sua Divina Majestade. Seria o mesmo que o Sol aproximar-se da terra. Ninguém suportaria a presença da Glória Divina, como a terra não poderia suportar a presença próxima de todo o calor do Sol. Por isso, velou-se Deus com um corpo humano. Revestiu-se dele para ficar dentro da ordem estabelecida desde o princípio da criação, e com esse corpo apresentou-se aos homens para salvá-los. A humanidade não foi condenada pelos erros que seus antepassados cometeram, mas foi-se corrompendo de tal modo - acumulando os males dos ascendentes com os descendentes, numa proporção cada vez maior - que o inferno ameaçava a destruição da raça humana. Quando isto estava para acontecer, JEHOVAH assumiu a natureza humana, a fim de poder combater o mal diretamente em seu próprio refúgio, e conduzir os homens que obedecessem aos Seus Mandamentos a uma nova Igreja. Por esse meio livrou os homens da destruição de suas almas, isto é, preservou a própria humanidade. A paixão na cruz não foi, pois, um castigo imposto por JEHOVAH para resgate da humanidade, mas sim uma etapa da grande luta em que Ele venceu o poder do mal e submeteu a potência dos infernos.
83.3- CARACTERÍSTICAS HUMANAS ATRIBUÍDAS A DEUS
83.3.1- A seguir transcreveremos passagens da Doutrina da Nova Igreja:
"A doutrina da fé da Igreja de hoje atribui características humanas a Deus. Estabelece, por exemplo, que JEHOVAH considerava o homem com ira e que só Se reconciliou com ele por amor do Filho e pela intercessão deste. Admite que JEHOVAH exigia uma satisfação para Sua ira que só o sofrimento do Filho fez com que Ele se tornasse misericordioso. Admite, também, que o homem injusto que pede perdão em nome do sacrifício de Jesus, unicamente pela fé nesse sacrifício, será perdoado e, assim, de "filho da ira" é transformado em filho da graça e de inimigo em amigo. Quem não sabe que Deus é a misericórdia mesma e a clemência mesma, por que Ele é o Amor mesmo e o Bem mesmo, e que tais coisas são o seu próprio Ser ou Essência? E sendo assim, quem não vê que há contradição em dizer que a misericórdia mesma ou o bem mesmo pode considerar o homem com ira, fazer-se seu inimigo, desviar a vista dele, determinar sua condenação e ainda continuar sendo Deus? Tais coisas não se poderiam atribuir a um anjo do céu quanto mais a um Deus de justiça e misericórdia! (Exposição Sumária das Doutrinas da Nova Igreja, 60-61).
83.3.2- "Os que pretendem defender o ponto de vista de se atribuírem a Deus características humanas, a fim de justificarem o processo de redenção imaginado, dizem que a ira, a vingança, a condenação e coisas parecidas são predicados da Justiça Divina e são mencionadas em muitas passagens da Bíblia, pelo que podem ser consideradas como apropriadas a Deus. Mas a ira de Deus de que fala a Palavra significa o mal do homem que, por ser contra Deus, se chama "ira de Deus", não porque Deus tenha ira, mas porque o homem, pelo seu mal, é contra Deus e porque no mal está o próprio castigo, como no bem está o prêmio. Assim, quando o mal é castigado em conseqüência da lei por que é governado, ao responsável por esse mal parece que Deus o castigou. É o que ocorreria com um criminoso que atribuísse seu castigo aos juízes, ou com uma pessoa que culpasse o fogo por lhe ter queimado a mão que nele mergulhou ou, ainda, culpasse uma espada desembainhada em mão alheia, sobre cuja ponta avançasse sem cuidado, do ferimento que a mesma lhe causasse. Assim é a justiça de Deus. E posso afirmar que os anjos, sempre que ouvem dizer que Deus, por sua ira, determinou a condenação da raça humana, fez-se seu inimigo e só se reconciliou com ela pela intercessão de Seu Filho, como se este fosse um outro Deus engendrado de Si mesmo, sentem náuseas e dizem: Poderá haver maior loucura do que esta de afirmar tais coisa sobre Deus? (Ibidem, 62).
83.4- O CÉU E O INFERNO
83.4.1- Onde está o céu? Está distante ou próximo de nós? O Senhor mesmo deu a resposta: "O reino de Deus está dentro de vós". O mundo espiritual é como aquele que aparece em nossos sonhos: não tem espaço. Está em torno de nós e dentro de nós, mas não tem senão aparência de espaço. Embora façamos essa comparação entre o mundo espiritual e o que aparece em nossos sonhos, a vida espiritual não se assemelha a nenhum sonho. Ao contrário disso, ficaremos mais despertos no outro mundo do que ficamos neste, e as coisas que veremos e ouviremos serão mais reais que as que vemos e ouvimos neste mundo. A razão disso é que as coisas daquele mundo são mais reais que as deste.
83.4.2- Visto que Deus é a Misericórdia mesma e o Amor mesmo, conclui-se que Ele não castiga nem pode castigar ninguém, pois isso seria contra a sua essência. Os maus que habitam os infernos castigam-se a si mesmos ou se castigam uns aos outros, porque essa foi a condição que escolheram ao praticarem o mal, considerando que cada mal traz consigo a sua própria pena; esta é uma lei infalível no plano espiritual. O inferno, isto é, as região espiritual onde habitam os maus espíritos, é exatamente como uma sociedade de indivíduos perversos neste mundo, na qual uns vivem lesando os outros.
83.4.3- O fogo celestial é o amor que emana do Senhor e dá calor ao espírito do homem. Por isso se diz que uma pessoa nutre um amor ardente por outra, ou, quando não tem capacidade afetiva, que é uma pessoa fria. Tais expressões vêm do mundo espiritual, de onde o Sol do céu, como se manifesta o Senhor, irradia a luz da verdade que ilumina a mente e o fogo do amor que aquece o espírito.
83.4.4- O fogo do inferno é o oposto do fogo celestial. O fogo do inferno de que fala a Bíblia não é um fogo material (o que seria uma crueldade indizível) nem é o remorso da consciência, como alguns supõem, pois (os que lá estão não têm consciência alguma). O fogo do inferno é o fogo do ódio e da concupiscência que arde dentro do espírito do homem neste mundo e que se manifesta à vista, espiritualmente, como um fogo.
83.5- POR QUE OS HOMENS VÃO OU PARA O CÉU OU PARA O INFERNO?
83.5.1- Transcrevemos abaixo passa="JUSTIFY">83.5- POR QUE OS HOMENS VÃO OU PARA O CÉU OU PARA O INFERNO?
83.5.1- Transcrevemos abaixo passagens das obras de Swedenborg a respeito deste ponto: "Todo homem é criado para viver eternamente num estado feliz, pois Aquele que quer que o homem viva eternamente, também quer que ele viva feliz. Sem isto, que seria a vida eterna? A criação teve como objetivo a felicidade humana. Mas se o homem não procura ir para o céu, a culpa não é do Senhor e sim do homem, se este não alcança a felicidade.
83.5.2- Os homens "preferem os deleites do inferno, que são contrários à vida do céu; e porque não estão na felicidade celestial não podem suportar o céu, quando nele introduzidos. A ninguém que chega no mundo espiritual é proibido subir ao céu, porém os que estão nos deleites do inferno não podem permanecer ali, pois são portadores de sentimentos contrários à vida celestial".
83.5.3- As leis do outro mundo são semelhantes às deste mundo, e o homem lá conserva o mesmo caráter que teve aqui. É evidente que o homem que ama o mal gosta de estar na companhia daqueles que têm o mesmo sentimento. Se ele fosse obrigado a viver na companhia daqueles que detestam o mal sentir-se-ia extremamente infeliz; para ele, tal companhia seria pior que o inferno. É, pois, segundo Sua misericórdia, que o Senhor permite aos maus viverem juntos nas regiões chamadas infernos.
83.6- O JUÍZO FINAL
83.6.1- Dos esclarecimentos anteriores, podemos concluir como se processa o julgamento do homem depois da morte. Podemos compreender, agora, porque, com tanta freqüência na Palavra, que o homem será julgado "segundo as suas obras" ou, o que é o mesmo, segundo as intenções que animam suas obras, pois uma boa obra feita com intenção má não é considerada boa, no céu, bem como não é considerado punível um ato mau praticado de boa intenção.
83.6.2- Em face dos amores e desejos2- Em face dos amores e desejos que animam sua vida, o julgamento é feito pelo próprio homem, pois é ele quem escolhe sua morada: o céu ou o inferno. O bom procura o céu, porém o mau prefere a companhia dos semelhantes no inferno. O Senhor não condena ninguém ao inferno: é a própria maldade existente no homem que o condena. Não obstante, o Senhor, pela Sua misericórdia, ainda permite que os maus se congreguem e vivam no inferno.
83.6.3- Assim, pois, o homem executa sobre si mesmo o juízo de Deus, e Deus permite que assim se faça, pois quer que o homem seja livre. É a liberdade, ou seja o livre arbítrio, que caracteriza o homem. Se Deus obrigasse o homem a ser justo e a amá-Lo, não teriam valor a justiça e o amor. Um homem assim dominado não passaria de simples autômato. Se um pai obrigasse o filho a que o amasse, o amor desse filho não teria valor, sequer seria amor. Para que o amor tenha valor deve sair do coração. Assim, segundo a Lei divina, o homem é livre para que possa amara a Deus ou rejeitá-Lo.
83.7- ANJOS E DIABOS
83.7.1- Num estudo como este, não podemos descrever pormenorizadamente a natureza da vida futura, cuja descrição completa se encontra no livro de Emanuel Swedenborg intitulado "o céu e o inferno". Nessa obra são descritas inumeráveis coisas, muito interessantes, relativas à outra vida, entre as quais salientamos a graduação dos céus, o governo dos céus, o Sol dos céus, as habitações e as ocupações dos anjos ali. As Doutrinas Celestes para a Nova Igreja ensinam que não há anjos criados desde o princípio, mas sim que todos os anjos provieram dos homens. O diabo não é um anjo decaído, como ensina a tradição cristã, baseada em algumas passagens da Bíblia mal interpretadas. Ele é apenas uma simbolização do mal e do inferno. Os diabos ou demônios mencionados na Bíblia são espíritos maus de homens que, enquanto viveram neste mundo, escolheram fazer o mal por um propósito determinado. A idéia de que o diabo é um indivíduo se originou, em grande parte, da mitologia persa.
83.8- CASAMENTOS NO CÉU
83.8.1- Da passagem dos Evangelhos: "Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento, mas serão como anjos de deus no céu" (Mateus 22:30), tem-se deduzido que na outra vida todos são celibatários. Essas palavras foram ditas pelo Senhor porque a idéia do matrimônio entre aqueles aos quais Ele falava era tão carnal e grosseira, que eles não teriam entendido a verdadeira significação do casamento celestial. Ele lhes respondeu como por parábola, como aliás, sempre fazia. Por isso o Senhor permitiu que eles pensassem que não há relações maritais no céu - pelo menos não da maneira como eles as encaravam - até que chegasse o tempo em que os homens pudessem elevar-se em pureza e percepção, para chegar a pensar do matrimônio como coisa santa e espiritual. Em outras palavras, esperou a sua volta a este mundo, em espírito, para revelar as condições da vida do homem no outro mundo.
83.8.2- No idioma grego, em que foi escrito o Novo Testamento, a expressão "tomar mulher" significa a cerimônia nupcial e não o estado de casado. Na Bíblia, a palavra "núpcias" é freqüentemente usada com um sentido espiritual, como quando se fala das bodas do Cordeiro. em Isaías lemos: Tua terra será casada". Ser "casado", na Palavra, significa ter conjunção ou união. No plano do espírito, há um importante casamento que deve se do espírito, há um importante casamento que deve ser feito enquanto estamos aqui, neste mundo: é o casamento do amor e da fé no homem. O amor e a fé devem unir-se em perfeito matrimônio, a fim de que o homem se prepare para entrar no reino de Deus.
83.8.3- Essa grande boda do amor e da fé, que se efetua na mente humana, é simbolizada pelas núpcias que se efetuam entre um homem e uma mulher. O homem representa a fé, o entendimento -é ele quem se interessa pela investigação da verdade. A mulher representa o amor, a afeição - é ela, geralmente, mais afetiva que o homem. O casamento da caridade e da fé, ou, o que é o mesmo, da sabedoria e do amor se efetua não somente entre os representantes desses atributos, mas também na mente de cada um deles. E foi esse casamento na mente de cada um, que tem de ser realizado neste mundo, a que se referiu o Senhor quando respondeu aos saduceus. Se o casamento da fé e da caridade não se realizar na mente do homem neste mundo, também não se realizará no céu.
83.8.4- No céu, o matrimônio é essencialmente espiritual, por causa da natureza do homem. Quando morremos, levamos para o outro mundo todas as nossas afeições e pensamento. Seremos lá ou homens ou mulheres, não só pelo corpo com que nos apresentamos, mas principalmente pelo espírito. Uma vez que o espírito é o próprio ser da pessoa, um homem e uma mulher casados e que se amam interiormente não podem ser separados, mas estão unidos pela eternidade, como é dito na Palavra:
"Portanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem" (Mat.19:6).
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